Reflexão sobre a tranquila
resposta do porta-voz vaticano, Pe. Federico Lombardi.
A revista italiana
"Panorama" revelou que, entre os alvos da espionagem da Agência
Nacional de Segurança dos EUA (NSA), também estava o Vaticano. A quase
despreocupada resposta do Pe. Federico Lombardi diante da pergunta dos
jornalistas foi: "Não temos informações sobre este tema, mas, de qualquer
maneira, também não temos preocupação alguma a respeito disso".
Interessante contraste com a irritada resposta de Angela Merkel, ao saber que
suas conversas privadas haviam sido espionadas.
O Vaticano não é consciente
da gravidade do escândalo? Certamente sim, depois da dor produzida pelo
vazamento de informações conhecido como "Vatileaks", no qual
documentos privados desapareceram do escritório papal. Mas, nesse caso, o foco
era a preocupante sensação de ter um espião dentro de casa, uma pessoa
aparentemente fiel que agia nas sombras, por motivos inconfessáveis.
A "limpeza"
iniciada por Bento XVI – e que continua com seu sucessor – nos organismos
financeiros da Santa Sé leva a pensar que, realmente, se houvesse alguma
informação secreta de cunho econômico revelada pelas escutas telefônicas, o
próprio Papa Francisco ficaria feliz em saber.
Por outro lado, que o
Vaticano não escape das escutas das agências de inteligência das grandes
potências, era de se esperar, dada a intensa atividade diplomática da Santa Sé.
São muitos os chefes de Estado e muitas as questões delicadas que passam pelas
mãos do Papa, tanto de Francisco como dos seus antecessores.
Mas também é verdade que a
reserva vaticana tem a ver com a prudência, e não com os interesses econômicos
ou geoestratégicos. O Vaticano é um protagonista político de primeira ordem,
mas como uma instância moral que ajusta as relações entre os países. Ele não
tem nada a ganhar com isso. No máximo, conseguirá a proteção das minorias
cristãs e dos bens da Igreja nos países em conflito, mas estes não seriam
motivos inconfessáveis.
Parte das escutas
realizadas, segundo revela o "Panorama", ocorreu durante a realização
do conclave do qual o Papa Francisco saiu eleito. Dadas as enormes medidas de
segurança que a Santa Sé desenvolve para manter o sigilo durante um conclave,
caberia esperar um pouco de preocupação nas altas esferas vaticanas. Mas não
foi isso que aconteceu.
O impenetrável sigilo que
permeia a eleição de um papa foi concebido, antes de tudo, para evitar a
entrada de informação, mais do que a saída: ou seja, o que se busca é evitar as
pressões externas sobre os cardeais eleitores, de maneira que ninguém de fora
possa condicionar um momento tão delicado. O problema mais grave não são as escutas,
mas as interferências.
Resta, finalmente, a ironia
de que surja o tema das escutas precisamente com o Papa mais
"telefônico" que já passou pelo Vaticano. Seria muito divertido
escutar as gravações do Papa Francisco ligando para aquela mãe solteira ou para
o dentista argentino.
Para um Papa que decidiu
fazer-se ouvir pelas pessoas "de fora", saber agora que os técnicos
das agências de inteligência também estavam atentos pode até tê-lo feito pensar
que a Providência tem caminhos inesperados para levar a Boa Notícia da salvação
da humanidade.
http://www.aleteia.org/pt/mundo/artigo/quem-tera-escutado-as-ligacoes-telefonicas-do-papa-francisco-10464001?
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