Produção do RN responde por
30% da geração de energia eólica no país. Infraestrutura para expansão
tem avanços, porém, enfrenta problemas.
Felipe
Gibson e Fred Carvalho - Do G1 RN
Em
São Miguel do Gostoso, a praia divide o cenário com os aerogeradores (Foto:
Felipe Gibson/G1)
Posicionado na chamada
"esquina do continente", o Rio Grande do Norte é responsável pela
maior produção de energia eólica do Brasil, pouco mais de 30% do total, mas
ainda patina nas tentativas de aproveitar todo o seu potencial e colocar a
eletricidade gerada a partir dos ventos como alternativa real no país -- uma oportunidade
reforçada após o apagão da última semana.
ENERGIA EÓLICA
Alternativa para o país?
RN tenta explorar potencial vento que dá dinheiro ajuda para arqueólogos qualificação é desafio. Investidores do setor alegam
que o atraso na construção de linhas de transmissão e uma estrutura melhor no
porto de Natal para escoar equipamentos que compõem os parques eólicos são
empecilhos para o desenvolvimento.
O RN possui 67 parques
eólicos, que produzem comercialmente 1,79 gigawatts de energia, segundo
levantamento do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias
Renováveis (Cerne). Dos mais de 130 gigawatts produzidos no país, a imensa
maioria vem de hidrelétricas e termelétricas. Os parques eólicos no Brasil
inteiro ainda respondem por uma parcela de 3,5%, segundo dados da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Na Dinamarca - país tido
como referência no setor - esse índice chega a 43%. A meta do país, de acordo
com a Agência de Energia Dinamarquesa, é chegar a 2050 produzindo somente
energia e calor limpos, eliminando as emissões de dióxido de carbono. Lá, o
problema das linhas de transmissão foi resolvido com a construção de cabos
subterrâneos.
O Brasil planeja aumentar a
produção de energia por fontes renováveis. Segundo o Plano Decenal de Expansão
de Energia 2023, do Ministério de Minas e Energia, as energias eólica e solar
devem registrar crescimento de 8% nos próximos anos.
Vantagens ambientais.
Hugo Alexandre, diretor
executivo da Bioconsultants, empresa que presta consultoria ambiental para
empresas de energia eólica, diz que termelétricas e hidrelétricas de fato geram
mais eletricidade. Mas o diferencial da energia gerada a partir dos ventos está
atrelado aos impactos ambientais.
"Toda e qualquer
atividade vai gerar impacto, principalmente se for na geração de energia. O
importante é sempre tentar casar a geração de energia com a nova política
mundial colocada, que é a política da sustentabilidade", afirma Hugo
Alexandre. Com base nessa ideia, ele compara a geração de energia eólica com as
demais fontes da matriz energética.
Alexandre detalha que os
parque eólicos ocupam uma média de 30% a 40% das terras em que são instalados,
não geram resíduos e causam pouco desmatamento se comparado às demais fontes da
matriz energética. "A eólica convive com outras atividades como pecuária,
agricultura e preservação do meio ambiente. É comum você ter em cima as torres
gerando em cima e as plantações embaixo. A comunidade e o proprietário da terra
podem utilizar a área tranquilamente", conta.
Bacia dos ventos
A vocação natural do RN se
explica pela localização na "esquina do continente". O
diretor-presidente do Cerne, Jean-Paul Prates, explica que o estado fica no
caminho de uma bacia de ventos e é provavelmente um dos melhores lugares do
mundo para a energia eólica. "É uma formação regular de ventos que vêm do
Atlântico Sul, batem na costa africana e acabam na ponta do Brasil, onde o RN
está", observa.
Especializada em energias
renováveis, a empresa francesa Voltalia foi uma das que aterrissou no Rio
Grande do Norte para explorar os ventos. Com 15 projetos contratados por meio
de leilões organizados pelo governo federal, o diretor geral da empresa, Robert
Klein, afirma que os investimentos não devem parar por aí.
"Já investimos cerca de
R$ 400 milhões e no conjunto de todos os projetos devemos chegar a um valor
entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2 bilhões. Queremos ampliar os parques e estamos
estudando participar de novos leilões", afirma.
Voltalia iniciou operação do
parque eólico de Areia Branca no fim do ano passado (Foto: Divulgação/Voltalia)
Voltalia iniciou operação do
parque eólico de Areia Branca no fim do ano passado (Foto: Divulgação/Voltalia)
Voltalia iniciou operação do
parque eólico de Areia Branca no fim do ano passado (Foto: Divulgação/Voltalia)
A Voltalia iniciou em
novembro deste ano a operação comercial de um dos três projetos do complexo
eólico de Areia Branca, no litoral Norte potiguar. A empresa já começou a
construção de oito parques nos municípios de Serra do Mel e São Miguel do
Gostoso, também no litoral Norte. Outras quatro usinas estão contratadas para
serem implantadas em Serra do Mel.
As empresas que atuam no Rio
Grande do Norte planejam se expandir no estado. Levando em conta a operação de
todos os projetos, está prevista para os próximos anos a geração de mais de 4
gigawatts, segundo previsão da Aneel.
Atualmente, o destaque fica
por conta da região do Mato Grande, onde estão os municípios de João Câmara e
Parazinho, cidades com a maior parte dos projetos funcionando comercialmente,
além dos parques em construção e contratados.
Fora as regiões localizadas
no litoral ou próximas dele, o estado também possui projetos em construção em
regiões serranas, onde a força e constância dos ventos são influenciadas não
pela proximidade do mar, mas sim pela altitude. A região chamada de Serra de
Santana, onde estão as cidades de Lagoa Nova, Bodó, Santana do Matos, Florânia
e Tenente Laurentino Cruz, também aparece no mapa eólico do estado.
O processo
Toda a energia produzida,
independente da fonte, vai para as redes do Sistema Interligado Nacional. O
diretor de Energia Eólica do Cerne, Milton Pinto, costuma fazer uma analogia
para explicar a distribuição da energia no país (veja o vídeo).
"É semelhante a uma
grande piscina em que as fontes jogam água. Cada uma joga um tipo de água. A
água da piscina será um mistura de cores que representa energia elétrica
consumida no final", diz.
O processo de geração de
energia eólica começa quando o vento atinge o aerogerador. De acordo com o
professor Alexandro Vladno, coordenador do curso de energias renováveis do
Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), o
fluxo de ar faz as pás girarem, gerando um movimento mecânico (veja o vídeo).
Rocha acrescenta que um
gerador transforma a energia mecânica em elétrica. A eletricidade então segue
para o transformador e é adequada para entrar na rede elétrica. Na subestação,
o nível de tensão é adaptado para chegar ao consumidor.
Atrasos em linhas de
transmissão
Dono da maior potência
eólica instalada em todo o país, o Rio Grande do Norte tem como principais
concorrentes para atrair projetos os estados da Bahia, Ceará e Rio Grande do
Sul. A presidente da Associação Brasileira Energia Eólica, Elbia Melo, explica que
os leilões têm se tornado cada vez mais co TO 5mpetitivos e que a
questão da infraestrutura tem pesado.
Atrasos nas linhas de
transmissão deixaram projetos parados (Foto: Felipe Gibson/G1)
No caso do RN, a perda de
espaço em alguns leilões tem uma causa específica apontada por especialistas: o
atraso na entrega das linhas de transmissão – responsáveis por levar a energia
gerada nas usinas para as redes distribuidoras da eletricidade.
Embora acredite que a demora
na entrega das linhas tenha sido um fator de desequilíbrio em leilões pontuais,
a presidente da Abeeólica não acha que os dados sejam tão relevantes.
"Os leilões estão
extremamente competitivos. Vencem os que possuem melhores condicões de
infraesturura, onde entram as linhas de transmissão. Esse atraso colocou o Rio
Grande do Sul um pouco a frente dos estados do Nordeste em alguns leilões
porque lá as linhas de transmissão já estavam construídas", analisa Elbia
Melo.
Logística
A infraestrutura do Rio
Grande do Norte para receber os projetos também é um dos alvos de
questionamentos nas discussões sobre energia eólica. O material usado na
construção dos parques chega em navios e é transportado em carretas, que acompanhadas
pela escolta de batedores, chegam até os empreendimento para serem montados.
Por serem equipamentos pesados, as torres e pás usadas nos aerogeradores
precisam de espaço para serem escoados. É aí onde, segundo investidores, reside
um dos problemas.
Por estar localizado em um
bairro de ruas estreitas como a Ribeira, na Zona Leste da capital, o porto de
Natal exige uma logística mais complexa para o transporte dos equipamentos.
"É um porto confinado
por terra", afirma o diretor geral do Cerne, Jean-Paul Prates. A falta de
espaço também impede o desenvolvimento da cadeia produtiva no entorno, como
acontece nos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, constantemente
escolhidos como pontos de transporte de carga dos parques eólicos instalados no
RN.
Para a presidente da
Abeeólica, Elbia Melo, a questão portuária é o que falta para um salto ainda
maior do Rio Grande do Norte no setor. "Não é um porto adequado para este
tipo de operação. São máquinas grandes, pesadas e que requerem um cuidado especial.
A logística é um ponto muito importante. Tanto que os portos maiores atraem
muitos fabricantes de equipamento. O porto de Natal não tem condições físicas
para receber o tipo de carga que um empreendimento eólico movimenta",
opina.
Tópicos: Bahia, Bodó, Ceará,
Florânia, João Câmara, Lagoa Nova, Natal, Parazinho, Pedra Grande, Rio Grande
do Norte, Rio Grande do Sul, Santana do Matos, Serra do Mel, São Miguel do
Gostoso, Tenente Laurentino Cruz
FONTE: G1.com
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