Não comer carne às
sextas-feiras. Fazer apenas uma refeição completa na Quarta-feira de Cinzas.
Essas práticas ainda existem? Mas qual é valor e o sentido de se abrir mão de
algo que seria bom e útil para o nosso sustento?
O jejum – decisão temporária
de não comer nada ou comer menos que o habitual – é praticado não só por
motivos religiosos. É considerado pela Igreja um exercício de conversão a Deus.
Fortalece o espírito e ensina que o sentido da vida não consiste apenas na satisfação
dos desejos ou na busca de bens.
Em termos gerais, jejum
significa não comer nada, ou comer menos que o habitual. Trata-se de uma
prática comum na sociedade, seja por razões religiosas ou não. Há pessoas que
fazem greve de fome por motivos políticos. Já outras mantêm rígida dieta
alimentar por razões estéticas. Na Igreja católica, o jejum insere-se no
contexto das práticas penitenciais, que são exercícios de conversão a Deus.
O jejum não é algo
desconhecido ou rejeitado pela cultura moderna. Na história recente, ficaram
famosos os jejuns praticados por Mahatma Gandhi (1869-1948). O líder político
indiano jejuou em diferentes ocasiões – em algumas delas por até 21 dias – como
forma de protesto contra a colonização britânica.
Além do âmbito político,
onde se utiliza o termo “greve de fome”, o jejum é praticado em questões de
saúde, como no caso de pessoas que não ingerem uma série de alimentos por
prescrição médica. Há também o motivo estético, na busca por uma melhor
aparência. E não se pode esquecer do jejum imposto pela necessidade, em
situações de fome e miséria.
Na Igreja católica, o jejum
é uma prática penitencial. Mas o que é a penitência? É a virtude cristã que
inspira o arrependimento pelos pecados. Em sentido mais amplo, a penitência é
“uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus
de todo o nosso coração” (Catecismo da Igreja Católica – CIC –, 1431).
Trata-se de um desejo de
mudar de vida, “com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda
de sua graça”. Esta conversão interior vem acompanhada daquilo que os Padres da
Igreja – grandes homens dos inícios da Igreja, aproximadamente do século II ao
VII – chamavam de “compunctio cordis”, ou seja “arrependimento do coração”
(CIC, 1431).
Nesse sentido, uma das
expressões mais tradicionais da penitência cristã é justamente o jejum – ao
lado da oração e da esmola –. Sendo assim, o jejum não se reduz apenas à
questão alimentar. Jejuar é “privar-se voluntariamente do prazer dos alimentos
e de outros bens materiais”, explica o Papa Bento XVI na mensagem para a
Quaresma de 2009.
A Igreja estabelece como dia
de penitência toda sexta-feira. Já a Quaresma, que constitui um caminho de
treino espiritual mais intenso em preparação para a Páscoa, é considerada tempo
de penitência. Trata-se de ocasiões especiais para jejuar, dedicar-se à oração
e exercitar obras de piedade e de caridade.
A Quarta-feira de Cinzas e a
Sexta-feira Santa são os dias prescritos para o jejum e a abstinência – não
comer carne.
Outro jejum indicado pela
Igreja é o eucarístico. Quem vai receber a eucaristia deve se abster, pelo
espaço de ao menos uma hora antes da comunhão, de qualquer comida ou bebida,
exceto água ou remédios (Código de Direito Canônico, 919 § 1).
A Bíblia e a tradição cristã
ensinam que o jejum é de grande ajuda para evitar o pecado e tudo o que a ele
induz. Por isso, na história da salvação, é frequente o convite a jejuar. O
primeiro jejum foi ordenado a Adão: não comer o fruto proibido. Segundo as
Escrituras, Moisés, Esdras, Elias, os habitantes de Ninive jejaram.
Já nas primeiras páginas da
Sagrada Escritura, Deus ordena que o homem não coma o fruto proibido: “Podes
comer o fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas o da árvore da
ciência do bem e do mal, porque, no dia em que o comeres, certamente morrerás”
(Gn 2, 16-17).
sources: Aleteia
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