A relação entre os maestros das principais
orquestras sinfônicas do mundo e os seus músicos é o tema de uma discussão que
está incendiando o comedido mundo da música clássica. E as reportagens
publicadas na imprensa sobre assunto revelam algo que muitos já sabiam mas que
até agora não haviam dado muita atenção:
Polêmica envolvendo autoritarismo dos
principais maestros do mundo serve como um alerta para os líderes que se
consideram regentes de suas organizações.
A relação entre os maestros das principais
orquestras sinfônicas do mundo e os seus músicos é o tema de uma discussão que
está incendiando o comedido mundo da música clássica. E as reportagens
publicadas na imprensa sobre assunto revelam algo que muitos já sabiam, mas que
até agora não haviam dado muita atenção: a tirania do estilo de gestão /
liderança de alguns maestros e os impactos na performance e na reação dos
músicos.
O tema interessa ao público em geral como uma
curiosidade e uma excentricidade, porém interessa em particular aos executivos
e gestores de empresas porque reacende duas polêmicas interessantes e velhas
conhecidas.
A primeira diz respeito à discussão do estilo
de liderança. No ambiente das empresas este é um tema debatido e experimentado
cotidianamente, escolas de pensamento em management produziram / produzem farto
material sobre o assunto, além de seminários / cursos e coachings que são
realizados para desenvolver novas e antigas lideranças. O centro da discussão é
exatamente o mesmo que vem sendo debatido no mundo musical: qual é o impacto do
estilo e das práticas de liderança de um líder no comportamento dos seguidores
e / ou subordinados? Como este impacto se traduz em motivação para o trabalho e
produtividade?
Não é o caso dos maestros terem de frequentar
os cursos citados. No entanto, para eles que lidam com pessoas com intenção de
conseguir resultados em um ambiente altamente motivador de produção musical,
não é possível admitir que o estilo tirânico pudesse ser aquele escolhido para
a condução de músicos e a produção de música. Não é necessário ser um
especialista em relações humanas para saber que tiranos colhem reações
contrárias como sabotagem, “corpo mole” e desvios de conduta, respostas que são
consequência direta do seu comportamento. É sabedoria corrente que quanto maior
a opressão, mais as pessoas desenvolvem (mais cedo ou mais tarde) mecanismos de
sobre passá-la, ou de simplesmente evitá-la. É simples, será que maestros tidos
como autoritários gostariam de ser tratados da mesma forma que tratam seus
músicos?
Gestores de empresas têm estas questões à
“flor da pele” e buscam seus resultados com consciência de que seu estilo
melhora ou piora a performance de equipes com quem trabalham. Porém, justiça
seja feita, é óbvio que entre eles estão os que se aproximam em atitudes dos
maestros autoritários, e pode ser que diante desta polêmica estejam refletindo
ou mesmo festejando suas práticas.
Em resumo, se este tema não está resolvido
nas empresas, pelo menos lá é objeto permanente de discussão e desenvolvimento.
No mínimo elas não aprovam a idéia de ter paralisações, sabotagens e greves de
seus funcionários, principalmente se forem causadas por estilos gerenciais
tirânicos.
A segunda polêmica é decorrente da primeira.
Muito se utilizou e ainda se utiliza a metáfora da orquestra sinfônica e seu
maestro para compreender e ilustrar aspectos da relação líder x seguidor e do
funcionamento de equipes dentro das empresas. Neste caso, não parece que esta
seja uma metáfora adequada. As fortes e profundas mudanças globais nos últimos
tempos direcionaram o cenário organizacional para: estruturas em rede,
organizações virtuais, estruturas matriciais globais, flexibilidade,
adaptabilidade, competências comportamentais diferenciadas... que já não podem
mais ser entendidas com a ajuda das mesmas metáforas e conceitos.
De fato as organizações de hoje estão
exatamente pregando, desenvolvendo e incentivando práticas de relacionamento
que sustentem um ambiente minimamente saudável para se trabalhar. Talvez a
metáfora neste ponto pudesse ser invertida: compreender a gestão de uma
orquestra sinfônica através da gestão de uma equipe de trabalho em uma empresa.
Pessoas motivadas e suas contribuições são
fundamentais para o sucesso. Líderes que incentivem e fomentem isto muito mais.
Seria uma enorme injustiça deduzir que todos
os maestros são autoritários. Porém é hora de renovar práticas e conceitos que
privilegiem as pessoas e suas competências como a principal fonte de resultados
de uma empresa (orquestra ou não). Gestores e maestros são facilitadores e
incentivadores de talentos, de aprendizagem e de ambientes estimuladores de
produtividade.
Se for necessária uma metáfora do mundo
musical para se compreender melhor estas questões, esta seria a da banda de
jazz. Ela pode produzir melhores resultados em termos comparativos. Ao
contrário da orquestra sinfônica, que segue uma partitura pré-existente, pouca
inovação na execução e segue as orientações de um líder sempre presente, com
muito pouco riscos e erros, um jazz band é caracterizada pela improvisação
/inovação, pela criação sem o benefício do planejamento, pela liderança e
aprendizagem compartilhadas, pela autogestão, entre outras.
Com estas características, muito mais
próximas do cotidiano das empresas hoje, e sem ser uma nova moda, a metáfora da
banda de jazz pode contribuir para uma reflexão mais atualizada de alguns
aspectos do cotidiano do management, enfocando estes pontos em torno dos quais
orienta sua produção musical.
Uma banda de jazz pode ajudar, ainda no mesmo
sentido metafórico, líderes e “músicos” organizacionais a compreender como
responder melhor às exigências de desempenho em ambientes de velocidade e
criatividade, que é o que o músico de jazz sabe fazer com muita competência,
sem precisar que alguém o trate de maneira autoritária.
Luís Felipe Cortoni
cortoni@lczconsultoria.com.br
Formado em Psicologia. Iniciou sua carreira
no Departamento de Desenvolvimento Gerencial da Mercedes Benz do Brasil em 1981
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