ALLYSON MOURA (DO NOVO JORNAL) 11 DE AGOSTO
DE 2014 - ESTADUAL
Se as previsões
meteorológicas se confirmarem, o Rio Grande do Norte - assim como boa parte dos
estados nordestinos - poderá viver em 2015 uma das maiores crises de
abastecimento de água da história. Pelo menos um terço dos reservatórios
potiguares já está com o volume de água inferior a 10% da capacidade total e
com a evaporação, além da subtração do recurso para o consumo, boa parte deles
deve secar completamente até o final do ano. A ameaça recai principalmente
sobre dez açudes, entre eles o de Gargalheiras, em Acari.
Neste cenário, até os
grandes reservatórios poderão ter o uso de suas águas repensado. A barragem
Armando Ribeiro Gonçalves, maior manancial potiguar, perde por dia só em razão
do consumo 104 milhões de litros, que são utilizados também para atender a
áreas produtivas como a carcinicultura, fruticultura e pecuária. Adicionando-se
ao cálculo o que evapora do manancial, estima-se que o reservatório perderá
275,5 bilhões de litros até o próximo 31 de dezembro, o equivalente a 27% do
seu volume atual.
Para o meteorologista da
Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte, Gilmar Bristot, a
situação é realmente preocupante. As chuvas dos últimos três anos não foram
suficientes para encher os reservatórios e a possibilidade de chuva é quase
nula até novembro próximo, ao menos. “O segundo semestre do ano é seco. De
agosto a dezembro, praticamente não chove. E o que chove não tem significado
nenhum diante dos pesares”, assinalou o meteorologista.
Para 2015, ainda não há
muitas previsões. Mas quando se leva em consideração o panorama meteorológico
atual, a preocupação ganha ainda mais peso. “Hoje temos um quadro de El Niño no
Oceano Pacifico, que é sinônimo de seca no Nordeste. E a previsão é de que em
setembro, outubro e novembro, ele vai continuar prevalecendo. Se esse quadro
não tiver mudança até o final do ano, aí eu não sei o que vai ser de 2015.
Entrar o ano com El Niño atrapalha completamente o período chuvoso e podemos
ter mais um ano de seca”, afirmou.
Uma nova longa estiagem
significa agravar uma situação que já está bastante séria. Hoje, de acordo com
a Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), já há quatro
cidades que não recebem mais água nas torneiras: Tenente Ananias, Paraná,
Antônio Martins e Carnaúba dos Dantas. Nestes lugares, desde que o
abastecimento pela Caern foi suspenso, entraram em ação o Estado e a Defesa
Civil, que passam a oferecer água em carros pipa.
Há outros municípios que
também estão prestes a ter seu abastecimento suspenso. É o caso de Jardim do
Seridó, onde o açude Zangarelhas já está com menos de 2% de sua capacidade
total. Em Olho D’água dos Borges, a situação também é de alerta: o açude Brejo
está com 3,6% de seu volume.O cenário fez com que a Secretaria Estadual de Meio
Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh) não limitasse o uso produtivo somente
destes três maiores reservatórios: Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu, Umari,
em Upanema, e Santo Cruz do Apodi, em Apodi.
“Nestes reservatórios a
quantidade de água nos dá uma garantia maior por mais tempo. O que é retirado
para atividade produtiva não faz tanta diferença”, explicou a coordenadora de Gestão de Recursos Hídricos
da Semarh, Joana D’arc Medeiros. “Mas nós sabemos que esta restrição é muitas
vezes desobedecida”, assinalou.
NATAL
A situação da capital do
estado, ao contrário de boa parte do interior, não é vista com preocupação.
Choveu bastante em Natal nos últimos meses, elevando o nível das lagoas do
Jiqui e de Extremoz, bases do abastecimento do natalense.No ano passado,
chegou-se a cogitar a necessidade de racionamento na capital.
A lagoa do Jiqui, localizada
em Nova Parnamirim, é responsável por 30% de todo o abastecimento da parte Sul
de Natal (Zonas Sul, Leste e Oeste). O restante é feito por poços. Já a Zona
Norte da capital tem 70% de sua água retirada da lagoa de Extremoz.As duas
lagoas, no final do primeiro semestre de 2013, chegaram a marcar 50% do volume
total.
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