Feito inédito é celebrado
pelo povo de um dos mais isolados e extensos municípios de todo o Brasil, no
coração da selva amazônica
No último sábado, 17 de
março, foi ordenado o primeiro sacerdote do povo indígena baniwa (ou baníua, em
grafia aportuguesada). É o pe. Geraldo Trindade Montenegro, conhecido, conforme
a tradição local, também pelo nome da tribo: pe. Geraldo Baniwa. O bispo
ordenante foi dom Edson Damian, da diocese amazônica de São Gabriel da
Cachoeira.
Formado no Seminário
Interdiocesano de Manaus, o agora sacerdote fez as suas práticas pastorais na
Paróquia Nossa Senhora da Assunção, que oferece acompanhamento às comunidades
do Rio Içana e Rio Ayarí, perto da fronteira com a Colômbia. Trata-se da região
de origem do pe. Geraldo, nascido na comunidade de Araripirá Cachoeira.
Enfatizando que um padre
deve respeitar a comunidade e não ser “aquele que decide e manda”, o novo
sacerdote afirma:
“Ser
padre, receber o Sacramento da Ordem, é se tornar presença de Jesus no mundo
cotidiano”.
O Pe. Geraldo vai assumir a
paróquia da sua comunidade de nascimento, em meio aos seus parentes, e quer ser
ali “presença plena de Deus“, conforme declarou no final da sua ordenação.
São Gabriel da Cachoeira
fica na fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela. É a diocese com a maior
porcentagem de população indígena em todo o país, superando 90%. O município é
um dos maiores do Brasil em extensão territorial, com 293.000 quilômetros
quadrados. Vivem nele 23 povos indígenas que falam 18 línguas diferentes – e as
três principais dentre elas, em um caso inédito na federação brasileira, têm
status de idiomas oficiais ao lado do português: as línguas baniwa, tukano e
nheengatu (a título de curiosidade cultural, o nheengatu é a versão
remanescente do tupi antigo, sendo por isso também chamado, ainda que imprecisamente,
de tupi moderno).
Evangelho
e culturas autóctones
O anúncio do Evangelho deve
responder às realidades locais, como recorda o Magistério da Igreja, e, na
Amazônia, a diversidade de povos, línguas, culturas e realidades sociais
aumenta os desafios pastorais. Nesse contexto, o protagonismo dos agentes locais
ganha importância singular.
Os leigos e leigas,
religiosas e religiosos e os padres da região, que conhecem a realidade local,
têm em tese maior facilidade para se adaptar à vida das comunidades. O povo
baniwa está profundamente esperançoso diante do futuro, pois seu novo padre fala
a sua língua, está identificado com a sua cultura e pretende inculturar o
Evangelho numa realidade que sempre fez parte da sua vida. Muitos catequistas
locais consideram que ter um pároco indígena é um aspecto que reforçará
decisivamente o trabalho missionário, hoje e no futuro.
Com
informações do REPAM-Brasil, via Vatican News
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