Doutora em sociologia na França, autora de uma tese sobre o papel das mulheres no catolicismo brasileiro e nas Comunidades Eclesiais de Base, Maria José Rosado-Nunes considera haver dois tipos de desafios para o novo papa: com relação às questões internas da Igreja Católica, e outros externos à instituição.
Internamente, diz ela, ocorreram escândalos financeiros e outros, por conta de casos de pedofilia que teriam sido cometidos por membros da Igreja, que não foram resolvidos de forma satisfatória na gestão de Bento XVI.
"Existem processos judiciais inclusive contra o pontífice e outros altos membros da Igreja, por de alguma forma terem sido coniventes com os crimes", avalia a pesquisadora. O novo Papa poderia elucidar estes casos, na avaliação dela.
Conciliar a disputa entre correntes conservadoras e outras de pensamento mais liberal também é um desafio ao novo pontífice, avalia Rosado-Nunes, que é professora da de ciência da religião na Universidade Metodista e na PUC-SP.
Externamente, a Igreja Católica sofreu perda de legitimidade e liderança, em grande parte devido aos escândalos recentes, diz a professora. "Por outro lado, há perda significativa de fiéis, mais recentemente na América Latina, mas também nos EUA e na Europa. Na medida em que diminui o número de fiéis, a Igreja perde força como referência religiosa do Ocidente", afirma Rosado-Nunes.
Eulálio Figueira tem outro ponto de vista. "Não acho que o crescimento das igrejas evangélicas é um desafio ao catolicismo, até porque o trânsito de fiéis dessas igrejas costuma ocorrer mais entre elas", diz.
Ele avalia que a perda de fieis "não vai ser uma preocupação tão grande para o novo papa". Para Figueira, o novo pontífice vai ter que lidar mais com as demandas da sociedade moderna, como o aborto e o uso da camisinha, mesmo que seja para manter uma posição conservadora.
"Bento XVI foi extremamente capaz e muito inteligente, mas colocou estas questões em um 'standby', fugiu destas questões", pondera o professor. Ele reflete que o novo papa mais cedo ou mais tarde terá que enfrentar os temas espinhosos.
"Um perfil como o de João Paulo II, mais carismático e mais estadista, pode ser preferível [para ser papa]", considera o professor da PUC-SP. Para Figueira, o atual pontífice fez um esforço para ficar mais próximo dos fiéis, mas era de sua personalidade "ser mais introspectivo, mais voltado para os estudos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário