Com a aposentadoria compulsória de Dom Matias Patrício, especulou-se com vários nomes para sucedê-lo. O Sr. foi o eleito. Como é feita a escolha para arcebispo de Natal e como o Sr. se sentiu ao ser escolhido pelo Papa Bento XVI?
Em primeiro lugar devemos atentar para o contexto histórico e eclesiástico da Arquidiocese de Natal, que sempre teve como pastores ou dirigentes aqueles sacerdotes que pertencem ao seu próprio clero. Com a exceção do primeiro arcebispo de Natal, dom Marcolino Dantas, que era natural do estado da Bahia, todos o que se seguiram tiveram origem em terras potiguares e são oriundos do clero de Natal: Dom Eugênio Sales, Dom Nivaldo Monte, Dom Alair Vilar, Dom Heitor Sales, e o meu predecessor, Dom Matias Patrício. Eu me identifico e me sinto pertencente a esse mesmo clero, pois desde que ingressei no Seminário de São Pedro, em 1971, passei a integrar e a viver a vida da Igreja Católica de Natal.
Seria muita ousadia minha, e muito pretensioso, achar que o fato de ter passado por Natal e fazer parte dessa família eclesiástica seria motivo para eu ser, automaticamente, anunciado na função apostólica de arcebispo de Natal.
Como disse João Paulo II, em 1997, no documento de Aparecida, na Igreja não há nada como pressuposto nem descontado. Jamais seria pelo fato de eu ser parente de pessoas influentes ou ter vivido a minha vida inteira em Natal que eu conquistaria a posse do título, até porque essa não é bem a minha realidade. Já por ter sido nomeado fora dessas condições, a posse da Arquidiocese de Natal é muito importante para mim e anuncia um tempo de muito trabalho e boas novas para a entidade potiguar. Somos uma instituição divina, mas não deixamos de ter a ação humana dentro dos nossos umbrais, e por isso somos suscetíveis a falhas. Porém, essas falhas nos levam ao aperfeiçoamento e à busca pelo desenvolvimento do corpo eclesiástico natalense.
O que passou pela sua cabeça ao tomar conhecimento de que for a escolhido pelo Papa para o cargo máximo da Arquidiocese de Natal, e o que o fez meditar na sua história?
A igreja é mãe e mestra. Ela tem o que ensinar e tem responsabilidade para com os seus filhos. Ela dá a vida pelos seus filhos. Dentro desse contexto, de não está esperando essa boa nova, minha atitude foi de me desligar das expectativas de ver o meu trabalho crescer lá em Campina Grande. É doloroso para um pároco ter que deixar a missão no meio do caminho, mas fica no coração a certeza de que todo o trabalho será encaminhado da melhor maneira possível pelo novo pároco que assumir.
Quais são os seus planos para o governo arquidiocesano?
Eu recebi uma igreja que está caminhando com passos firmes. Por isso não vou sair inventando uma moda. Ao assumir, um novo gestor precisa respeitar o legado deixado pelo seu predecessor, dar continuidade aos trabalhos que já vinham sendo desenvolvidos e perpetuar ideais conquistados ao longo dos anos vividos na última gestão. Claro que vamos acrescentar ao longo dos anosnovas ações, dependendo da procura, formação e característica de cada pastor.
E como o senhor recebe a Arquidiocese?
Já recebo depois que ela concluiu o seu plano pastoral elaborado para 2012 e não podemos abandonar o preceito de tornar a Igreja um instrumento de união da sociedade e das comunidades em geral. É preciso instruir as pessoas e dar autonomia para que elas possam seguir ao Nosso Senhor com convicção e na certeza de que ele faz parte de suas vidas, visto que vivemos numa sociedade pluralista.
Diante das dimensões da Arquidiocese de Natal, 25 mil km², sendo a segunda maior do Nordeste, eu me vejo com uma responsabilidade grande de coordenar tantas paróquias. Não posso levar o meu ministério adiante sozinho; preciso do maior número possível de colaboradores que me auxiliem nessa missão. Já vivi uma experiência de cooperação na Igreja Católica, na época em que Dom Heitor Sales assumia a Arquidiocese. Ele estabeleceu os vigários episcopados, que eram padres responsáveis por assumir determinados segmentos da igreja e atuavam como "secretários especiais" na missão de manter a ordem e o crescimento da instituição. A autoridade delegada pelo arcebispo para esses párocos é um exemplo de liderança a ser seguido pelos fiéis. O trabalho desse colegiado promove uma melhor administração arquidiocesana, a qual flui com mais segurança e eficácia. Isso é umcompromisso que eu quero restituir ou recriar para fortalecer o governo arquidiocesano da Igreja Católica de Natal, diante de todos os desafios que enfrentamos na sociedade atual. Por exemplo, um vigário que busque parcerias para a igreja, ou aquele que estabeleça um contato mais direto de relações institucionais com a sociedade civil e o poder público.
Vejo que há muitas possibilidades e o conhecimento que tenho sobre a Igreja de Natal me dá tranqüilidade e a certeza de que tudo vai transcorrer da melhor forma.
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