www.hydrapreciosa.blogspot.com

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

AS ROSAS

Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores                                                        Matinais;
Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema da ilusão.

Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afeto,
Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.
Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese à beleza,
Pereceis;
Mas, não... Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
Floresceis.

Machado de Assis, in 'Crisálidas'

Nenhum comentário:

Postar um comentário