O
risco da ideologização e instrumentalização ocorre naqueles que querem
conservar a antiga liturgia independentemente da Hierarquia.
A
Igreja tem dezenas de ritos, orientais e latinos, expressões litúrgicas
diferentes do mesmo culto prestado a Deus. A diversidade litúrgica, quando
legítima, é fonte de enriquecimento, manifesta a catolicidade da Igreja e não
prejudica a sua unidade, por significarem e comunicarem o mesmo mistério de
Cristo (cf. C.I.C. nº 1206 e 1208).
Uma
dessas riquezas litúrgicas católicas é a antiga forma da Liturgia Romana,
chamada também forma extraordinária, usada por muitos santos por vários
séculos. Nós a conservamos em nossa Administração Apostólica, por faculdade a
nós concedida pela Santa Sé, como o fazem igualmente muitas congregações
religiosas, grupos e milhares de fiéis em todo o mundo, por apreciar essa
beleza litúrgica, clara expressão católica dos dogmas eucarísticos. E a Santa
Sé reconhece essa nossa sensibilidade e adesão como perfeitamente legítimas.
Assim se expressara o então Cardeal Ratzinger: “Se bem que haja numerosos
motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na
liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram
preservada a dignidade do sagrado” (Conferência aos Bispos chilenos, Santiago,
13/7/1988). Desse modo bem compreendido, a Missa na forma antiga contribui
grandemente para a “pax litúrgica” na Igreja, como desejava Bento XVI.
Em
sua famosa entrevista à revista Civiltá Cattolica, publicada em 19 de setembro
último, o Papa Francisco, a respeito da Missa na forma antiga, ressaltou a
prudência de Bento XVI ao estender a concessão da celebração dessa forma
litúrgica a toda a Igreja, em atenção às pessoas que têm essa sensibilidade
particular. Mas fez uma advertência: “Considero, no entanto, preocupante o
risco da ideologização do Vetus Ordo, a sua instrumentalização”.
O
risco da ideologização e instrumentalização ocorre naqueles que querem
conservar a antiga liturgia independentemente da Hierarquia e, pior ainda,
usá-la como fator de divisão e crítica ao Magistério da Igreja. Por isso
escrevi na minha primeira mensagem pastoral de 5 de janeiro de 2003:
“Conservemos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o
Magistério vivo da Igreja, e não em contraposição a eles”. É claro: “Em erro
perigoso estão aqueles que julgam poder unir-se a Cristo, cabeça da Igreja, sem
aderirem fielmente ao seu Vigário na terra” (Pio XII, Enc. Mystici Corporis,
40). A celebração da Santa Missa, pois, só é legítima se em comunhão com a
hierarquia: “Somente neste contexto, tem lugar a celebração legítima da
Eucaristia e a autêntica participação nela” (João Paulo II, Ecclesia de
Eucharistia, 35). “Que se considere legítima só esta Eucaristia que se faz sob
a presidência do Bispo ou daquele a quem este encarregou” (S. Inácio de
Antioquia, Smyrn., 8,1).
“A
diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas pode também
provocar tensões, incompreensões recíprocas e até mesmo cismas. Neste campo, é
claro que a diversidade não deve prejudicar a unidade. Esta unidade não pode
exprimir-se senão na fidelidade à fé comum... e à comunhão hierárquica” (João
Paulo II, Vigesimus Quintus Annus, 16, 4/12/1988).
(Blog
do Dom Fernando Rifan)
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