Neste XXVI domingo do tempo
comum, o que a liturgia nos propõe é claramente uma continuação do tema do
domingo passado sobre o não servir ao dinheiro como um ídolo.
Muitas pessoas apostam que a
plenitude da vida e da felicidade se encontra na riqueza; basta olhar a
correria de pessoas por empregos ou negócios que ofereçam enormes salários, e
sempre insatisfeitas com o que vão conquistando. É a diabólica pedagogia, que
tem dividido o nosso mundo em milhões de “lázaros”, obrigados a catar lixo, a
comer sobejos que caem das mesas dos ricos, ou morrer de fome.
Uma pedagogia que,
infelizmente, parece ter se transformado em religião no nosso mundo e que é uma
das razões dos piores males da humanidade. Que, pelo menos, temos uma notícia
boa este ano, segundo a ONU, o número de famintos crônicos diminuiu 9,6%. Em
2009, eram mais de 1,02 bilhão de pessoas que sofriam de fome crônica, a este
são 925 milhões.
Ainda assim, é uma vergonha
não ter se extinguido por completo a fome e a miséria num mundo cada vez mais
cheio de cifras bilionárias.
O ser rico não é mais um
sonho de alguns que ficavam observando a fabulosa vida que leva quem chegou a
ser um “tio patinhas” da vida, mas se tornou uma verdadeira obsessão, que
ameaça cancelar os verdadeiros desejos do coração, aqueles que Deus inspira e
tem como sonho “amar até doar-se em plenitude”.
Infelizmente, parece que é a
fábula do momento: uma fábula cultivada de tantas revistas e livros
especializados em como “enriquecer juntos”, “o segredo das mentes milionárias”
etc., sem por um único momento, pensar que atrás da fachada de luxo e ostentado
bem estar, muitas vezes está uma tristeza que é sinal do vazio do coração. Nada
pode dar a verdadeira felicidade se não o amor que se faz dom e não posses.
A estes, e a quantos querem
ser como eles, o profeta Amós faz uma
forte denúncia à injustiça daqueles que levam uma vida luxuosa à custa da
exploração dos pobres, sendo totalmente indiferentes ao sofrimento e miséria
destes. Para eles, Amós anuncia que Deus não vai tolerar este egoísmo,
reservando-lhes um final infeliz: serão deportados de seu país “na primeira
fila”.
Lucas denuncia o mau uso do
dinheiro por parte de alguns à custa da miséria de tantos. Na parábola do homem
rico e do miserável Lázaro, Jesus descreve a vida terrena de ambos: os dois
extremos da sociedade. O rico tem um estilo de vida alto, suas roupas são das
grifes mais caras, elegantes e luxuosas.
Ele usa a sua riqueza para
levar uma vida cheia de prazeres. O sentido da vida pra ele é o prazer das
coisas materiais. O que o separa do miserável Lázaro é apenas a porta de sua
casa. Ele não acolhe o pobre.
Este leva uma vida dura; não
só é desprovido de bens, mas se encontra doente e desabrigado. Seu corpo não é
coberto de roupas finas, mas de muitas feridas.
Ele quer matar sua fome com
o sobejo da mesa do rico. Sua companhia são os cães sujos que se aproximam dele
para lamber-lhe as feridas. Faminto e doente vive na sujeira das ruas.
Mas, diferentemente do rico,
Jesus faz questão de lembrar o seu nome: Lázaro (Deus ajuda).
Na extrema pobreza, ele não
perde a confiança, mas é convicto de que Deus o ajuda.
Morre o miserável, único
instrumento de salvação do rico. Morre também o rico. A morte os torna iguais.
Não há como escapar dela. E a este ponto, o destino deles se inverte
completamente.
O que é descrito sobre a
vida depois da morte dos protagonistas da parábola não quer ser uma descrição
precisa da vida eterna; mas quer caracterizar a radical diversidade entre a
vida daquele que um tempo foi rico e a do que foi pobre. Lázaro é levado para o
seio de Abraão, para o banquete festivo. Quanto ao rico, dois elementos mostram
como mudou a sua situação.
Ele que vivia no luxo, agora
é rodeado de fogo e grandes tormentos. Ele que tinha a sua disposição comidas
finas e bebidas importadas, agora implora por uma simples gota d’água. Na vida
terrena, Lázaro faminto tinha lhe pedido os restos da sua mesa sem receber
nada.
Agora, é o rico que pede uma
gota d’água na ponta do dedo de Lázaro e não pode recebê-la. Tarde demais! O
modo no qual empregou sua riqueza e consumou a sua vida o reduziu a uma
condição na qual sofre dor e tormento.
O rico reconhece tanto que o
modo que conduziu sua vida estava errado que queria que Lázaro fosse avisar aos
seus irmãos para mudarem de vida a fim de evitar aquele trágico destino.
Mas, Abraão não permite e
responde: “Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem” Pra evitar esse
destino, é necessário escutar a Palavra de Deus, pois ela mostra a vontade de
Deus, a orientação para uma vida justa.
Nela, é expressa a nossa
responsabilidade social com relação aos mais pobres. Mas somente seremos
capazes de praticá-la se tivermos um coração bom e aberto.
O coração cego é endurecido
pelo egoísmo e não se interessa por Deus nem pelo próximo.
Jesus nos convida sempre a
tomar consciência dos verdadeiros problemas do mundo e a atuar num empenho
cristão, que não se limita a alguma esmola, mas procura ir às causas da
desigualdade, das injustiças, com obras de partilha e de solidariedade.
Quantas coisas supérfluas
nós temos?
Quanto tempo da nossa vida
desperdiçamos com coisas inúteis?
Quantas coisas podemos fazer
pelos mais necessitados e não o fazemos?
Ele não nos condena se
usarmos coisas materiais boas, o que ele denuncia é se isso significa egoísmo e
indiferença para com os nossos irmãos mais necessitados.
Nota: observe bem que este
texto evangélico também é um dos mais fortes na argumentação de que uma vez
tendo morrido, nenhum de nós “tem permissão” de Deus para voltar a este mundo,
nem que seja para dar um bom conselho a um familiar.
Fonte: Pe Carlos Henrique Jesus
Nascimento