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domingo, 29 de setembro de 2013

UM GRANDE ABISMO CHAMADO INDIFERENÇA


Neste XXVI domingo do tempo comum, o que a liturgia nos propõe é claramente uma continuação do tema do domingo passado sobre o não servir ao dinheiro como um ídolo.
Muitas pessoas apostam que a plenitude da vida e da felicidade se encontra na riqueza; basta olhar a correria de pessoas por empregos ou negócios que ofereçam enormes salários, e sempre insatisfeitas com o que vão conquistando. É a diabólica pedagogia, que tem dividido o nosso mundo em milhões de “lázaros”, obrigados a catar lixo, a comer sobejos que caem das mesas dos ricos, ou morrer de fome.
Uma pedagogia que, infelizmente, parece ter se transformado em religião no nosso mundo e que é uma das razões dos piores males da humanidade. Que, pelo menos, temos uma notícia boa este ano, segundo a ONU, o número de famintos crônicos diminuiu 9,6%. Em 2009, eram mais de 1,02 bilhão de pessoas que sofriam de fome crônica, a este são 925 milhões.
Ainda assim, é uma vergonha não ter se extinguido por completo a fome e a miséria num mundo cada vez mais cheio de cifras bilionárias.
O ser rico não é mais um sonho de alguns que ficavam observando a fabulosa vida que leva quem chegou a ser um “tio patinhas” da vida, mas se tornou uma verdadeira obsessão, que ameaça cancelar os verdadeiros desejos do coração, aqueles que Deus inspira e tem como sonho “amar até doar-se em plenitude”.
Infelizmente, parece que é a fábula do momento: uma fábula cultivada de tantas revistas e livros especializados em como “enriquecer juntos”, “o segredo das mentes milionárias” etc., sem por um único momento, pensar que atrás da fachada de luxo e ostentado bem estar, muitas vezes está uma tristeza que é sinal do vazio do coração. Nada pode dar a verdadeira felicidade se não o amor que se faz dom e não posses.
A estes, e a quantos querem ser como eles,  o profeta Amós faz uma forte denúncia à injustiça daqueles que levam uma vida luxuosa à custa da exploração dos pobres, sendo totalmente indiferentes ao sofrimento e miséria destes. Para eles, Amós anuncia que Deus não vai tolerar este egoísmo, reservando-lhes um final infeliz: serão deportados de seu país “na primeira fila”.
Lucas denuncia o mau uso do dinheiro por parte de alguns à custa da miséria de tantos. Na parábola do homem rico e do miserável Lázaro, Jesus descreve a vida terrena de ambos: os dois extremos da sociedade. O rico tem um estilo de vida alto, suas roupas são das grifes mais caras, elegantes e luxuosas.
Ele usa a sua riqueza para levar uma vida cheia de prazeres. O sentido da vida pra ele é o prazer das coisas materiais. O que o separa do miserável Lázaro é apenas a porta de sua casa. Ele não acolhe o pobre.
Este leva uma vida dura; não só é desprovido de bens, mas se encontra doente e desabrigado. Seu corpo não é coberto de roupas finas, mas de muitas feridas.
Ele quer matar sua fome com o sobejo da mesa do rico. Sua companhia são os cães sujos que se aproximam dele para lamber-lhe as feridas. Faminto e doente vive na sujeira das ruas.
Mas, diferentemente do rico, Jesus faz questão de lembrar o seu nome: Lázaro (Deus ajuda).
Na extrema pobreza, ele não perde a confiança, mas é convicto de que Deus o ajuda.
Morre o miserável, único instrumento de salvação do rico. Morre também o rico. A morte os torna iguais. Não há como escapar dela. E a este ponto, o destino deles se inverte completamente.
O que é descrito sobre a vida depois da morte dos protagonistas da parábola não quer ser uma descrição precisa da vida eterna; mas quer caracterizar a radical diversidade entre a vida daquele que um tempo foi rico e a do que foi pobre. Lázaro é levado para o seio de Abraão, para o banquete festivo. Quanto ao rico, dois elementos mostram como mudou a sua situação.
Ele que vivia no luxo, agora é rodeado de fogo e grandes tormentos. Ele que tinha a sua disposição comidas finas e bebidas importadas, agora implora por uma simples gota d’água. Na vida terrena, Lázaro faminto tinha lhe pedido os restos da sua mesa sem receber nada.
Agora, é o rico que pede uma gota d’água na ponta do dedo de Lázaro e não pode recebê-la. Tarde demais! O modo no qual empregou sua riqueza e consumou a sua vida o reduziu a uma condição na qual sofre dor e tormento.
O rico reconhece tanto que o modo que conduziu sua vida estava errado que queria que Lázaro fosse avisar aos seus irmãos para mudarem de vida a fim de evitar aquele trágico destino.
Mas, Abraão não permite e responde: “Eles têm Moisés e os profetas, que os escutem” Pra evitar esse destino, é necessário escutar a Palavra de Deus, pois ela mostra a vontade de Deus, a orientação para uma vida justa.
Nela, é expressa a nossa responsabilidade social com relação aos mais pobres. Mas somente seremos capazes de praticá-la se tivermos um coração bom e aberto.
O coração cego é endurecido pelo egoísmo e não se interessa por Deus nem pelo próximo.
Jesus nos convida sempre a tomar consciência dos verdadeiros problemas do mundo e a atuar num empenho cristão, que não se limita a alguma esmola, mas procura ir às causas da desigualdade, das injustiças, com obras de partilha e de solidariedade.
Quantas coisas supérfluas nós temos?
Quanto tempo da nossa vida desperdiçamos com coisas inúteis?
Quantas coisas podemos fazer pelos mais necessitados e não o fazemos?
Ele não nos condena se usarmos coisas materiais boas, o que ele denuncia é se isso significa egoísmo e indiferença para com os nossos irmãos mais necessitados.
Nota: observe bem que este texto evangélico também é um dos mais fortes na argumentação de que uma vez tendo morrido, nenhum de nós “tem permissão” de Deus para voltar a este mundo, nem que seja para dar um bom conselho a um familiar.


Fonte: Pe Carlos Henrique Jesus Nascimento

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