“A misericórdia é o rosto de
um homem injustamente condenado à morte”, recorda o cardeal alemão Reinhard
Marx.
Repercutiu na mídia e nas
redes sociais a declaração que o papa Francisco fez ao mundo neste domingo,
durante a oração do ângelus na Praça de São Pedro. Ele fez um “apelo à
consciência dos governantes a fim de se chegar a um consenso internacional para
abolir a pena de morte”.
O Santo Padre não ficou só
num apelo genérico e retórico, mas fez uma proposta muito concreta e
comprometedora para “começar já”: “Que nenhuma sentença seja executada neste
Ano Santo da Misericórdia”.
Mas, afinal, a Igreja não
admitia a pena de morte?
Em contextos bastante
precisos, admitia. Durante séculos, a Igreja aplicou a esta delicadíssima
questão o mesmo princípio que fundamenta o direito à legítima defesa: em casos
extremos, não havendo nenhum outro recurso real disponível e estando em grave e
iminente risco a vida própria ou de terceiros indefesos, é lícito defender-se
mesmo que, para isto, a consequência indesejada seja a morte do injusto
agressor. É crucial destacar que o direito à legítima defesa não se restringe à
vida do indivíduo, mas da sociedade inteira. Com base nesse mesmo direito,
portanto, é lícito a um país ou grupo social defender-se de ataques bélicos
externos ou internos, desde que cumpridas as exigências morais para que essa
guerra seja sempre um ato de defesa e nunca ultrapasse este limite. A morte do
injusto agressor jamais pode ser um fim em si mesma, mas sempre uma
consequência indesejada e inevitável do ato legítimo de defender-se.
Era esta lógica, a da
“legítima defesa da sociedade”, que justificava, em casos extremos, também a
admissão da pena de morte para os criminosos que representassem um perigo muito
grave para a vida do próximo e que dessem mostra clara de não querer
reabilitar-se.
As palavras do papa
Francisco no último domingo, no entanto. se encaixam na nova abordagem que a
Igreja tem aplicado à questão, especialmente desde o pontificado de São João
Paulo II, arauto fervoroso da defesa da vida humana desde a concepção até a
morte natural. A grande ênfase de São João Paulo II na “cultura da vida” contra
a “cultura da morte” foi firmemente mantida por Bento XVI e, agora, pelo papa
Francisco.
Trata-se de uma “visão
integral da vida”, como declarou o cardeal Reinhard Marx, presidente da
Conferência Episcopal da Alemanha, ao participar do IX Congresso Internacional
de Ministros da Justiça, aberto em Roma nesta segunda-feira, 22 de fevereiro,
com o tema “Um mundo sem pena de morte”.
O congresso é organizado
pela Comunidade de Santo Egídio, empenhada em promover a abolição da pena de
morte durante o Jubileu da Misericórdia. “A misericórdia é o rosto de um homem
injustamente condenado à morte“, recordou o cardeal Reinhard, acrescentando:
“Eu tenho a profunda convicção de que não existe justiça sem vida”.
O purpurado alemão também
falou da necessidade de se renunciar à vingança, que “nunca é solução para
nenhum problema político ou social”. Reinhard evocou o discurso do papa nos
Estados Unidos, onde Francisco tinha declarado:
“Toda vida é sagrada; toda
pessoa humana tem uma dignidade inalienável, e a sociedade só pode se
beneficiar com a reabilitação daqueles que são condenados por crimes”.
Para encerrar, o cardeal
alemão afirmou que a pena de morte é um fracasso, “pois obriga o Estado a matar
em nome da justiça em vez de trabalhar em prol de uma sociedade de misericórdia
e de defesa da vida humana”.
FONTE: http://pt.aleteia.org/2016/02/23/o-papa-francisco-pediu-o-fim-da-pena-de-morte-mas-a-igreja-nao-era-a-favor/?utm_campaign=NL_pt&utm_source=daily_newsletter&utm_medium=mail&utm_content=NL_pt-
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