Nunca, nunca se esqueça
disso: a depressão é uma visitante, não uma moradora.
De uma hora para a outra ela
volta.
Como uma visita indesejada,
desarruma tudo de lugar, desorganiza os móveis e levanta a poeira. Você então
perde o interesse em fazer coisas que antes eram divertidas, mas não faz ideia
de por que isso está acontecendo. A depressão desestabiliza a mente, cega a
visão e remove a perspectiva de novamente enxergar luz.
Tudo é tão escuro!
A esperança vai embora e
desta vez (posso jurar) jamais voltará. A mente, novamente em reclusão, passa a
criar histórias em uma tentativa de sobrevivência, cria roteiros e ensaia cenas
de um futuro que na verdade jamais acontecerá. É a demissão, é a solteirice
como ponto final, a inexistência de amigos e a baixa autoestima. Uma voz – que
na verdade é o seu próprio pensamento – repete vez após vez: você não vale
nada, ninguém te ama.
As emoções se tornam maiores
que os fatos. Para o depressivo, aquela é a verdade. Ele acredita estar vivendo
na maior completa realidade, mas são apenas percepções ilusórias.
Nada de bom cresce na
escuridão. Nada! Mas tem algo que precisa desse tipo de ambiente: o pensamento
de morte.
A imaginação – leia
novamente, a imaginação – de que apenas um final definitivo pode te remover
daquela areia movediça que te suga para baixo. Nada é pior do que se ver preso
apenas com essa opção e que o seu único desejo é acabar com essa dor
dilacerante.
Mas ainda que a vontade de
viver escorra pelas mãos, nossos amores e amados são motivos suficientes para
caminhar mais um passo.
Ela tomou o seu tempo,
exigiu de seu pensamento muito mais do que um músculo é exercitado em uma
ginástica, sugou a sua energia e tempo e então, subitamente, vai embora. Tudo
isso, luz-escuridão-luz, durou cerca de cinco minutos.
A pior parte de ter
depressão é que você sabe o quão ridícula é a sua situação.
Você sabe que aquilo já aconteceu
uma vez. Você pode tentar utilizar de artifícios para distrair a mente e
espairecer um pouco mas, de alguma forma, você não enxerga uma saída. Feito um
pequeno monstro de estimação ela vem frequentemente para se alimentar e quando
está saciada volta a brincar.
Em momentos depressivos o
monstro quer atenção integral e, como consequência, você se isola. Uma ideia se
instala em sua mente de que não há ninguém com quem buscar ajuda; que você é o
responsável por lidar com aquele monstrinho. A vergonha de – mais uma vez –
estar naquele lugar te impede de gritar socorro. O telefone está ali, parado, e
ainda assim não há forças para selecionar um contato e pedir ajuda.
Porém, feito uma bola de
neve, cada vez que ela volta parece pior, o animal precisa de mais alimento e
sua alma vai se deteriorando. E então uma contestação: o silêncio piorou a
situação.
Entenda, o humor do ser
humano muda de acordo com a fase em que está vivendo. Em um mesmo dia é
possível sentir um espectro de emoções que varia de alegria à dor, do medo ao
fracasso. Mas, na depressão, não importa o que está acontecendo do lado de
fora, por dentro é que está desregulado.
Depressão não é a dor que
sentimos quando um parente morre, quando um amor se desfaz ou quando seus
planos falham. A depressão é a tristeza sem razão para tal. É muita tristeza
por tudo que acontece (e às vezes sem motivo).
Todos temos as nossas lutas
e precisamos aprender a lidar com elas. O que um depressivo precisa aprender é
a tratar aquilo como uma visitante, não como uma hóspede. Ela não faz e não
deve fazer parte de seu cotidiano. Não é algo para se domesticar, portanto,
“não alimente os animais”. Deixe-o morrer de fome.
Será preciso intervenção
química, psicológica e espiritual.
Para matar o monstrinho de
fome, você é que precisa se alimentar. Você precisa consumir cultura,
entretenimento, alegria e muito, muito autoconhecimento. A depressão fez com
que eu conhecesse o ser que habitava dentro de mim.
Você vai precisar cultivar
amizades, aprender que outras pessoas podem caminhar ao seu lado e que o
monstrinho não deve possuir toda a sua atenção. Cultive fé. Deixe crescer
perseverança e bom ânimo.
Pode parecer piegas, mas é
exatamente uma atitude positiva com a vida que pode te tirar desse poço
aparentemente sem fim. E é claro, para começar esse processo uma coisa é
essencial: assumir a depressão.
Afastá-la e fingir que nada
está acontecendo só a fortalecerá.
Não sinta vergonha de
encarar isso. Não há problema algum em assumir a depressão. Não foi culpa sua,
ela é uma invasora e entenda que sim, é uma doença – que já foi diagnosticada,
que atinge muitas outra pessoas e que já possui tratamento. Você provavelmente
precisará de ajuda e alguém com quem conversar – que te entenda, que seja
solidário, que abra o coração sem preconceito para te ouvir e que abrace sua
mão para buscar um tratamento adequado. E está tudo bem. De verdade.
E quanto aos remédios, o que
é que tem? Não é um tratamento que visa trazer a felicidade mas sim tornar a
tristeza suportável para que você possa então perceber os pontos positivos de
sua vida. E acredite em mim quando eu digo que eles existem. Faça uma forcinha
para percebê-los.
Mas lembre-se: ela é uma
visitante, não uma moradora. Por mais bagunça que possa fazer, por mais que
atrapalhe a sua intimidade e te prive de fazer algumas coisas, ela um dia irá
embora e você novamente irá sorrir e, quando voltar, pare e reflita com
bravura: o que eu posso aprender com essa crise? É uma honra aprender, crescer
e amadurecer dessa forma.
(Estêvão Reis, via Obvious)
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