Às
vezes encontramos ferramentas surpreendentes do Espírito Santo suplicando-nos
que sejamos santos
Bom
dia:
Nós
realmente não nos conhecemos, mas eu me sinto obrigado a escrever-lhe esta
carta, tendo em vista nossa breve conversa depois da missa de domingo passado.
Sei
que você se recordará de mim: sou aquele homem exausto, sem banho, que
derramava o lanche, com alguns brinquedos pelo colo, sujo de vômito,
equilibrista das chupetas daquele circo montado no banco da frente onde você
estava na igreja.
Somos
o motivo pelo qual as pessoas perdem a homilia. Somos o “amém” gritado aos
quatro ventos no momento errado; o aperto de mãos com a cara feia na hora da
paz…
Não
tenho certeza de que você saiba disso, mas nós temos total consciência do modo
como impactamos na experiência da missa dos demais.
Talvez
não lhe pareça, mas cada vez que um de nossos filhos fala alto, deixa cair
algo, brinca nos bancos ou enche a fralda, nós nos envergonhamos terrivelmente
e suplicamos que isso não esteja distraindo os outros de sua oração íntima com
Deus.
Percebo
agora que provavelmente isso não fique evidente, porque no domingo passado você
se sentiu inspirada pelo Espírito Santo (suponho) para vir me dizer que eu
estava lidando mal com a situação.
“Você
não sabe que há um lugar onde as crianças podem ficar? Será que você não
poderia sair da próxima vez com a criança que fala alto? Por que você não diz
aos seus filhos que eles não podem ficar dançando nos bancos durante o
Evangelho? Acaso não sabe que as pessoas estão tentando rezar?”
Eu
me sinto mal por não ter lhe respondido de forma mais ampla quando você veio
com tais comentários. Para ser sincero, senti-me tão mal com seus comentários
que não pude dizer mais do que “sinto muito”.
A
caminho do carro, no entanto, minha cabeça começou a pulsar com todas as coisas
que eu queria lhe dizer.
Oxalá
lhe houvesse dito que os olhares tortos e os comentários críticos sobre as
crianças fazem os pais refletir se deveriam mesmo trazer os filhos na missa.
Quisera
lhe recordar Marcos 10, onde os discípulos repreendem os pais por terem levado
os filhos até Jesus. Quem sabe você se recorda da reação de Jesus: “deixai vir
a mim as crianças”.
Eu
estava indignado.
Pudesse
eu lhe recordar as palavras do Papa Paulo VI na Gaudium et Spes, em que nos
recorda que “os filhos são realmente o maior presente do casamento”.
O
motivo pelo qual todos temos de mudar nosso pensamento é que as crianças são
maravilhosas justamente pelas razões que a aborrecem na missa.
Elas
nos distraem, nos incomodam, nos dificultam a concentração em nossas prioridades,
e por tudo isso fazem um trabalho duro para que sejamos santos.
Pudesse
eu ter-lhe dito que os meus filhos, que tanto a aborrecem, podem ser exatamente
o que Deus quer para você; uma forma de ajudá-la a superar o seu egoísmo e se
santificar. Sei que isso é o que meus filhos fazem por mim.
Por
fim, gostaria de lhe dizer que nossa fé católica é pró-vida. Talvez isso lhe
seja inconveniente, mas as crianças barulhentas e os bebês exigentes são o
resultado mais maravilhoso de uma vida “pró-vida”.
Quando
penso em Jesus olhando para nossa paróquia, eu o imagino com um grande sorriso
quando vê a homilia ser interrompida por algum ruído dos pequeninos.
Enquanto
me preparo para ir este domingo à missa, me asseguro de ter em mente essas
respostas para lhe dar quando a encontrar.
Mas
eis que me dou conta de algo.
Talvez
você não seja a senhora mal-humorada que odeia as crianças que eu imagino.
Talvez suas queixas no fundo não tenham nada a ver com minha família. Talvez
exista alguma dor profunda dentro da senhora que a tenha conduzido a me
criticar.
Uma
passagem da carta de São Paulo aos Filipenses me ajuda a recordar que devo
suprimir, humildemente, os pensamentos sobre mim, considerando os demais mais
importantes do que eu mesmo, cada um cuidando não só dos próprios interesses,
mas também dos outros.
Fico
pensando que seu comentário possa vir de algum sofrimento devido a uma
experiência de infertilidade. Ou da tristeza de um marido distante, frio e
indiferente. Ou do remorso por não ter feito da missa uma prioridade para os
seus filhos, que talvez agora estejam distantes da fé…
Mas
não fiz nada disso.
Pensei
só em mim mesmo. Pior ainda, me desgastei pensando em como colocar a senhora no
seu devido lugar.
Dessa
forma, se vou sugerir a Deus que coloque à sua frente uma família bagunceira,
também terei de admitir que Ele faça o mesmo comigo, colocando a senhora em
minha vida.
Estará
em mim a capacidade de aceitar o que Ele quer me oferecer através da senhora,
aceitando isso como uma oportunidade que Deus me oferece de melhorar minha
relação com Ele.
Eu
sei que isso não é fácil, mas quero proceder assim.
Rezo
pela senhora, e lhe peço que também reze por mim. Como pôde ver, eu preciso
muito.
FONTE:
http://pt.aleteia.org/2016/01/08/carta-a-mulher-chateada-com-meus-filhos-na-missa/
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